domingo, 26 de julho de 2009

...These are my twisted words...


Na noite pulsante a rua é lar dos mendigos. Diversão de rappers e skatistas. É o circo dos pobres. Ringue de punks e skinheads.A escória, vista em fotos de jornais sensacionalistas pelas lentes vitreas de enojados ricos pedantes. Cerceados em seus condominios pelos muros altos da segregação. Estão apreensivos pelas suas crianças. Proteja sua prole dos imundos macacos de circo. Eles trabalham pra nós. Gorjeta aos que seguem no rebanho. Os que se calam consentem. Óleo nas engrenagens. Assinatura trêmula nas entrelinhas.

Atmosfera de jovens alucinados e suas tribos diversas recheadas de um completo vazio. Escravos acreditando no livre arbítrio.Caminham a esmo como insetos guiando-se pela luz neon da cidade caótica. Avenida Paulista é um luxo. É um lixo. É uma mistura de gêneros que se repelem e que anseiam na realidade a mesma coisa disfarçada.Os que não se calam empunham rebeldia como arma apontada sem munição. Disparam com suas bocas freneticas palavras de calibre nenhum. No final das contas é tudo mais do mesmo. Ouço nas ruas o eco de uma empáfia cultural.Gente maluca querendo uma dose mais de adrenalina no sangue. Uma vida entorpecido. Mas a burguesia é seduzida. Filhos dos ricos compram dos filhos dos pobres que matam outros filhos da puta numa guerra entre si. O ser humano criou um historia fantastica de ambição e avareza ao longo dos seculos.Eu pensava em como as coisas são estranhamente sem nexo nesse mundo desordenado. Como aceitamos que apenas 1% da população retenha quase toda riqueza do mundo? Abandono absoluto a uma maioria que vive na merda. O dinheiro é o câncer da nossa sociedade monetaria e patriarcal.Um controle incondicional e bem engendrado sobre todas as mentes. Quem começou toda esta falcatrua?

Limpava os corpos fétidos em sua putrefação de ricos e indigentes. Profissão que me dava a medida exata de nós. Somos de fato todos bonecos pusilânimes encenando num período de tempo. Consciência de uma realidade subjetiva. O que é exatamente, o rosto verdadeiro daquilo que não esta em mim? Um pedaço de carne frio jaz sobre a mesa. Sem vida. Índios incinerados e ladrões esquartejados. Xenófobos e homofóbicos em sua mesquinharia de pensamento. Inocentes brutalmente mortos no transito vitimas de um ordinario bêbado filho da puta. Motoboys vitimas de sua propria insensatez e urgência, deputados corruptos nus transbordam contas milionarias no exterior.Mulheres que morrem vitimas de ignorância cega por um aborto proibido. Nos somos responsáveis pelo caos. Todos fedemos.

Todos somos compostos da mesma matéria inicial.

Conectados no instante primevo a essência do que se expande.

Escória caminhando sobre pernas titubeantes.Somos nós, simios virulentos filhos da puta.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

The Beatles - I'm Only Sleeping

When I wake up early in the morning
Lift my head, I'm still yawning
When I'm in the middle of a dream
Stay in bed, float upstream

Please don't wake me
No don't shake me
Leave me where I am
I'm only sleeping

Everybody seems to think I'm lazy
I don't mind, I think they're crazy
Running everywhere at such a speed
Till they find there's no need

Please don't spoil my day
I'm miles away
And after all
I'm only sleeping

Keeping an eye on the world going by my window
Taking my time

Lying there and staring at the ceiling
Waiting for that sleepy feeling

(solo)

Please don't spoil my day
I'm miles away
And after all
I'm only sleeping

Keeping an eye on the world going by my window
Taking my time

When I wake up early in the morning
Lift my head, I'm still yawning
When I'm in the middle of a dream
Stay in bed, float upstream

Please don't wake me
No don't shake me
Leave me where I am
I'm only sleeping

domingo, 12 de julho de 2009

Foje mi sentas ke mi ne ankoraŭ spertis veran amon



O estranho atravessou a rua sentindo o vento gelido no rosto pálido escanhoado. Caminhava ofegante,labios ressequidos camuflando dentes tortos e cobertos pela ferrugem anciã de alimentos,de quem desconhece,por pobreza ou por falta de acuidade,quiçá ambas,as noções sumárias da higiene pessoal.Promessas de beijos jamais cumpridas.Fantasia-se romances dentro de um cerebro de imaginação limitrofe.
A desconhecer o afã apaixonado dos abraços numa noite melancolica de outono.
Os pés,exangues e oprimidos num sapato andrajo que outrora serviu alguem de muito menos fortuna.Formigantes pés de quem leva consigo um frio que lhe vem do âmago.
Sombra arqueada pelas dores que os anos acumulavam.Era o peso das desilusões todas de jamais ter sido nada que um senão.
As juntas lhe são uma penitência merecida pela covardia de viver como um fantasma perdido num labirinto dentro de si mesmo. Um ecoar infinito dos urros que lhe afloram o espirito. A morrer no deserto das percepções.
Mãos cadavericas unidas contra o peito como numa prece. A reza é um opiáceo.Congregações de viciados num domingo enlutado curvam se em lastimas perante estatuas que serão eternamente surdas.
O estranho pigarreia e para. Silêncio sob a lua.Incerteza adornando a iminência do ato.
A luz amarelado funesto dos lampiões a gás a atrair insetos.
Olha para o céu de nuvens grandes e esparsas no vasto descampado de estrelas rutilantes.
Lagrima extemporânea a escorrer cheia de arroubo.
Furta a calidez da noite com os olhos embotados,no seu trotar coxo de passos desajeitados sobre paralepipedos íngremes da rua imersa no seu sono da madrugada.
Aperta os passos numa ânsia e estremecimento que é o saber prognostico do corpo e da alma.Se aproxima o fatidico livrar-se do mundo interior em ruinas.
No parapeito do rio o fraquejar das pernas.Um ultimo dizer sufocado pela emoção sincera de jamais sentir saudades.
"- O que ha de romântico em nascer e morrer e nesse breve espaço de tempo viver a historia,minha e do mundo,escrita por mãos trêmulas num sossego de dia chuvoso?
Sinto as asas elegantes a rasgar-me a carne e ser ela somente em espirito."
Não ha despedidas. So o alivio e o gozo na invasão das aguas a lhe roubar o ultimo suspiro.

*(Às vezes sinto que ainda não experimentei um amor verdadeiro.)


"a storm at sea, bow cracked and I was capsizing.
i sunk below where I swore I would never go.
if you can't stand in place,
you can't tell who's walking away
from who remains... who stays, who stays, who stays...

there are no tears, just pity and fear.
the vast ravine right in between."

(Death Cabie for Cutie - Pity and Fear)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

NADA FICOU NO LUGAR === ADRIANA CALCANHOTTO NO VIRADÃO CARIOCA EM 06-06-2009

"Nada ficou no lugar
eu quero quebrar essas xícaras
eu vou enganar o diabo
eu quero acordar sua familia

Eu vou escrever no seu muro
e violentar o seu rosto
eu quero roubar no seu grupo
Eu já arranhei os seus discos

Que é para ver se voçê volta
que é para ver se voçê vem
que é para ver se voçê olha pra mim

Nada ficou no lugar
Eu quero entregar suas mentiras
Eu vou invadir sua aula
Queria falar sua lingua

Eu vou publicar seus segredos
eu vou mergulhar sua guia
eu vou derramar os seus planos
O resto da minha vida "

sexta-feira, 15 de maio de 2009

you can free your mind


Obcecados pela felicidade e realização pessoal,cegos para as pessoas ao redor os transeuntes caminham absortos.Inventando sentidos para suas vidas mesquinhas.O direito me foi dado a questionar quem não conheço? Toda uma massa disforme de gente que crê numa felicidade impossível para a inteligência.Aprendi a sobreviver no vazio em que habito,esse cômodo exiguo e claustrofobico da falta de sentido.
Me perco nas paixões por coisa alguma.Uma que me valha como paliativo pra essa dor que nunca cura.Minha verdade me trai.

Lost in the moment...


A vida queima lentamente, sem filtros, sem atenuantes.É bruta,cancerigena.Regada a whisky,adrenalina e todos os monoxidos.Sudorese dos amantes de uma vicissitude ébria,exclusivo odor rançoso que ainda resta.Olho para um quarto que não conheço,deitado numa cama fria como a sentir a morte num cadafalso.Medo dessas coisas luridas que tenho atraido.Todas situações morbidas e inquietantes a qual me lanço, foram só porque escolhi um caminho traçado a esmo na escuridão de um cego titubeante? Culpo o determinismo dos filosofos idiotas e me abstenho da culpa. Irreflexão de um marionete bebado. Seria tão mais simples,se assim fosse.
Ando por entre ruinas de uma quase vida.Escombros de uma quase verdade calida.Uma busca continua em me sentir ninguem.É quase uma liberdade para viver da sua propria forma.Uma catarse forjada, a minha.Mentiras vestidas em maculada indumentaria de seda.Porque perfidia desse meu subjetivismo emprestado me diz : a redenção da liberdade vem atraves de uma vida baseada na razão.Sentimentos destroem.Ah,o que seria de mim sem essas verdades contestaveis que se compram numa banca de jornal, numa esquina boçal de uma avenida paulista qualquer.
A metafisica do amor.O mundo como vontade e reperesentação.
Homem livido me vendeu,demasiados trejeitos femininos,uma maneira calma e ofegante de pronunciar palavras roucas.Como se estivesse a ler pausadamente um quadro negro.Parecia surpreso, a refletir naquilo que dizia buscava saber se eram verdadeiros pensamentos seus ou tão somente os memes a boiar no subconsciente, sempre a propagar-se pelas mentes afora.Quiçá fosse apenas esse continuo vitral esfumaçado de erva a ofuscar meus olhos.Dissimula minha realidade sinestesica com suas cores surrealistas.
Sou o intruso nessa vida vazia de duas pessoas que não conheço.Minto.A vida vazia não pertence a eles, mas a mim.A culpa mutua estampada em seus olhares cinicos, dedos acusadores apontados um para o outro,as eternas palavras cuspidas como farpas.Injurias.Continuo a ser intruso pelo tempo necessario."Ate que a morte nos separe".Indubitavelmente,prefiro ser o primeiro.
Recinto cheira a sexo.Não pago,mas a sensação que me sobra se equivale.Não seguro,porem pior pesadelo nem seria venereo.Uma criatura de sentimentos confusos jaz ao meu lado.Pobre titere a rastejar pelos becos.Cabelos castanhos,encaracolados e descuidados.Não ha espaços para zelos.A pele ressecada,cor de ceramica de suas costas cadavericas,as omoplatas que sobressaem.Vislumbro suas costelas proeminentes e me lembro,sem nenhuma razão aparente,dos tantos lugares em que poderia estar.Em verdade,eu não deveria deixar me levar por essa inquietação a girar em torvelinho.Foda-se essa merda. Suponho que seria sensato acreditar nisso.Provo o gosto dessa pronuncia e tudo continua exatamente o mesmo.Minha sensatez é insossa.Gostaria sinceramente de elucidar minha propria charada.Essa que vivo a engendrar todos os dias.
Que solução resta?
Frequentemente acossado pelas duvidas que me atormentam.Seria tão mais simples se não mantivesse a mente opaca..."mantenha sempre as portas abertas, guri".
Falto novamente uma manha de sabado no trabalho.Quantas ja foram pelos mesmos futeis motivos.Companhia frivola,efemera de um alguem qualquer que nada acrescenta.Mais uma alma em conflito consigo mesma.Observo a essencia sorrateira que se esconde como reais motivos.Sou como um imã a atrair o que ha de pior.
Preciso voltar a dormir.A calma do sonho que afaga.
O que sera de mim apos essa manha ainda é duvida.Sobreviva ao seu destino pra que possa entende-lo.Folha em branco e uma caneta.Tudo o que preciso pra redigir essa historia.Dar a ela um novo sentido paranoico.


You took me to the restaurant where we first met
You knocked a future shock crowbar upside my head
I got caught with the stop of the tick-tock, tick-tock clock
When you told me what you knew

Lost in the moment
The day that the music stopped
And I do remember you

Drawing patterns with a cork on the tablecloth
Promising volcanic change of plot
Where will this lead us - I'm scared of the storm
The outsiders are gathering, a new day is born

Last night I dreamt that somebody loved me


Descubro quão vertiginosa pode ser a queda me lançando nela.É insana e mórbida essa persistência pelo querer ser nada mais do que uma simples mentira.Nesse fragil invólucro sustentado por ossos tento não caminhar afoita.Titubeio.Minha tentativa se faz hilaria,beira o ridículo.Tento dissimular acreditando que amanhã me farei outra.Pensamentos desordenados se embaralham como peças de um quebra cabeça cheirando a mofo.Com meus pés brancos de cadáver,dedos compridos e unhas largas,vou pintando o tortuoso caminho de uma equilibrista bebada.Pés frágeis que suportam esse corpo fatigado.
As ruas enfeitadas com suas cores rutilantes de natal, luzes e artefatos que emprestam significado a uma felicidade adulterada.Humanidade clama carente de símbolos.Sinto a necessidade de convulsionar um choro atado a nó por dentro.O vento gélido é como lâmina dilacerando a carne.Meus olhos queimam,minha boca é seca e amarga como de quem degusta uma promessa.Trago pausada e profundamente o cigarro, enquanto uma solitária senhora do outro lado da rua observa vitrines num sonhar mudo e sem gestos.O desejo infinito em sempre ter algo que se possa querer.Um homem de olhar ofidico-prepotente passa por ela a comentar com ficticia surpresa a expessa camada de neve que cobre carros.Alguma coisa se perdeu no entrementes de um horizonte em desalento.
Introspectiva sigo por entre essa gente pressurosa com o deslumbre de um espírito que nada mais é que o avesso dele em si mesmo.A ecoar perpetuamente em mentes imêmores.Peça teatral que se segue a risca.Não ha improvisos no declamar triste que se estende no palco.Deixo ser meu ritmo caótico uma torrente de sentimentos imensuraveis.Não me explico.A fluir meu ódio me sinto viva,o inverso da minha paixão pelo tudo que se sustenta basicamente no nada.
Nausea.Pilulas.Taquicardia.Cigarros.Café.Insônia.
Existe saudade nos olhos de todos.Cansaço nos rostos alheios.
Pesa sobre mim as lembranças.Tudo a realizar-se independente da minha vontade.Que cheia de magoa se aproxima em sevicias.O passado acende seus farois distantes num oceano de ausencia.Minha reflexão abstrada banhando-se em lagrimas.Perco o foco.
Minuto a minuto uma duvida aflora nessa paisagem tremula de fantasmas a usar mascaras.E eu aqui,a amar esse antagonismo das minhas sensações.O frio continuara no passar das horas.Me apavoro com o misterio de tornar-me humana.
O comboio de corpos febris,imersos em suas banalidades vagueia pela noite cheia de fugazes amores e extase.De beijos obscenos.A imensidão na qual me perco é uma fome por tudo o que me fere com unhas.
Nunca mais se ouvirá o cair das folhas secas.
Assisto o acontecer explosivo que rebenta ao redor e me sufoca.Deparo-me com a ideia que sempre morou em mim e apressamo-nos de mãos dadas.O resto é a mesma coisa,por dentro e por fora.Uma tosse seca e um estremecimento.Os carros velozes,os bebados de esquina.
Doi-me dentro de mim e embora soubesse pra onde correr,ha sempre muros a cercear me.Dobro os joelhos nessa calçada fria,coberta de neve,com suas lojas a vender inquietações e anseios.
Olhos turvos.
Sinto um abraço.
Caem as folhas secas.


Last night I dreamt
That somebody loved me
No hope, no harm
Just another false alarm

Last night I felt
Warm arms around me
No hope, no harm
Just another false alarm

So, tell me how long
Before the last one?
And tell me how long
Before the right one?

The story is old - I know
But it goes on
The story is old - I know
But it goes on

by: The Smiths

an empty house is not a home...


Caminhos que se cruzam como riscos num caderno de apontamentos.Matematica dos corpos a vagar num sem fim de possibilidades descartadas.Não ha que se expor às palavras.Extraviar-se das sensações sutis? Fazem da emoção sincera o que lhes convem.Modela o que ha de formidavel ate que sobre apenas a memoria fotografica na qual me debruço.Tenho contribuido para indiferença que pesa sobre mim.É um misterio a arquear as costas.
Odeio ser esse pedinte isolado em alma tão repleta de melancolia.Encosto-me no muro a fumar,apagando com dedos hesitantes um devaneio a me invadir o espirito.De tudo que poderia ter sido, sobra-me hoje apenas o cadaver de uma falsidade de haver no fim,um universo que é ele todo uma simetria de consequencias torpes.Sou ateu.Sou cinza.Sou aquele que definha numa triste saudade de jamais ter sido.
Me preocupa a obscessão pelo exterior.A tristeza emprestada do outro.O sorriso ocasional de quem tem nada a dizer.Ouço o ecoar da inutilidade que desabrocha num deserto cheio de prateleiras empoeiradas.Irriquieto nesse meu anseio mudo.Acorda com palidos labios a lhe soprar um desejo.
O que lhe diz a voz com seu intimo segredo? A esperança ultima numa tarde fria de outono.Vasta sombra onde deita os nervos tremulos.
Eu deixo o tedio que se cale.


I hope all my days
Will be lit by your face
I hope all the years
Will hold tight our promises

I don't wanna be old and sleep alone
An empty house is not a home
I don't wanna be old and feel afraid

I don't wanna be old and sleep alone
An empty house is not a home
I don't wanna be old and feel afraid

And if I need anything at all

I need a place
That's hidden in the deep
Where lonely angels sing you to your sleep
The modern world is broken

I need a place
Where I can make my bed
A lover's lap where
I can lay my head
Cos now the room is spinning
The day's beginning

By: Keane

Algoz


Alma triste a murchar jaz num canto, segurando sua xícara de café fumegante com mãos tremulas num anseio de bater de asas.Veste-se de luto e apaga a chama.Horas longas e vazias a desmanchar-se.Observo esse olhar tribulado de quem vai em desalento, a viver num crepúsculo de eterno silencio.Lábios secos e a febre a formigar-lhe o corpo.Paisagens serenas de quase sonolência.
Sou uma presença que não se ve embora as vezes se sinta.Trago sempre lagrimas comigo a deixar como rastro.La fora,as ruas entupidas com suas multidões de gente ordinaria.Com suas palavras sujas em conversa sussurrada.Observo misericordiosamente o misterio de ser humano.

I'm stuck in the tardis
Trapped in upper space
One minute snake charming
The next step i'm unlucky

Sempre que me permito, acabo por emudecer ao experimetar a enfermidade das sensações.Em mim não ha alegria nem tristeza.Nem haveria de ter.Aquilo que define quem somos.
Capto um pensamento: "Todas as verdades como imagem do mundo."
É a mulher jovem a contemplar hipnoticamente seu cafe,como se coubesse ali todas as respostas em torvelinho.Sinto uma necessidade,que é quase um onda morna, de toque,uma carencia de saliva,de advinhação,da proteção de um abraço.Nada disso me pertence.Sou eu o algoz com minha curiosidade excessiva.Cumpro meu destino sem comiseração nem julgamentos.
"Como suportar a ferida aspera? A palavra amorosa que ha de morrer em câncer?"
E ela sorve seu café absorta,despedaçando a esperança implicita ate que seja tudo fragmento.

All the right moves in
In the right places
Watch me dance
I'm a puppet
You can almost
See the strings

Chove.Tento não ouvir a turbulência de suas inquietações.E no final de duas horas,de ti só haverá lembrança.

Gimme an answer
Gimme a line
I've been climbing up this ladder
I've been wasting my time
Up on the ladder of our time to escape
Up on the ladder we wait for your mistake
Up on the ladder to call out the pain
Up on the ladder you're all the fucking same

Keep the wolf from the door...


Me jogo como um espírito inóspito de um terceiro andar mudo.Na poeira sóbria de uma quase verdade.Quero dormir.Porque afinal tudo é sonho.Ancorar no eco de um cansaço incógnito.Tudo tão fictício e repleto de cores.A língua que arpeja no ventre de uma serenidade que nunca conheci.O remorso daquele que chora traz o coração a pele.Angustia sorrateira num anseio bizarro.O misterio de ter nascido e a ilusão do ter passado.
A porta se abre no vale das sombras.O crocitar do corvo e o tocar do sino.A hora se antecipa por conveniência.Uma voz que explora os meandros de uma obscuridade.Rasga em mim as feridas.O pacto de acordar amanhã sem sofrimento.Uma dança tetrica a cada momento vivido.Na inercia atonita de viver sem paixão.O amor é um breve devaneio.Cega-me.Um adeus nas asas do cordeiro.Eu e meu enredo que não me cabe engendrar.Afasto-me da esperança num simples aceno.

Drag him out your window
Dragging out the dead
Singing I miss you
Snakes and ladders
Flip the lid
Out pops the cracker
Snaps you in the head
Knifes you in the neck
Kicks you in the teeth
Steel toe caps
Takes all your credit cards
Get up get the gunge
Get the eggs
Get the flan in the face
The flan in the face
The flan in the face
Dance you fucker dance you fucker
Don't you dare
Don't you dare
Don't you flan in the face
Take it with the love, it's given
Take it with a pinch of salt
Take it to the taxman
Let me back let me back
I promise to be good
Don't look in the mirror
At the face you don't recognize
Help me, call the doctor
Put me inside

Insônia


Quando acordo estremeço. Se esvai a realidade translucida de um sonho vivido de externas imagens sucessivas.O mistério subjacente de um momento embutido nas horas.Assim fugaz, diminuto.Um jazigo de homens inconsolaveis com seu remorso na forma de existirem.Estão todos presos.Recubitos na sombra que pesa sobre eles.
Acendo minhas velas e em pensamento faço uma prece.Cercada por paredes finas que dividem vidas vazias.É imprescindível pra mim que haja um alivio.Falsa cegueira amiúde se abate sobre mim.
A monótona inquietação de vestir-me de luto.Sobriedade da cor na palidez de um corpo esguio.Esgueira-se uma náusea de nada saber.
Tão mais calmo longe de todas as desesperanças.Observo a miríade de apartamentos a minha frente, nessa fauna insólita que vive sob a fatalidade do tempo.
Uma turbulência antecipada de todos os prazeres.
Tenho em mim um grito sufocado pela ausência de lágrimas.
Ouço as batidas rapidas da musica a ribombar pelos cômodos,suas camadas sonoras na superficie da voz lamuriante a criar em mim impulsos que se contradizem.
Antagonismo das sensações a correr na seiva que aos órgãos inunda.

Time
is running out for us
But you just move the hands upon the clock
You throw coins in the wishing well
For us
You just move your hands upon the wall

Um arder de alma numa tarde fria de sábado.Angustia no hálito de morte, vertigem claustrofóbica de febre.Ah, essa catarse pudica na insignificância que represento para o universo.
Me agarro trêmula ao parapeito da janela.Sento-me ali de costas para toda a corja de figuras lúgubres enclausuradas.Não haverá acenar de uma despedida triste.
Penso no esforço quotidiano desse usar de mascaras.Quanto esforço na tentativa de me encaixar.
É preciso saber onde buscar lagrimas.

It comes to you begging you to stop
Wake up

Minha insonia sera apenas uma lembrança vaga desse desassossego que sempre me doeu.

But you just move your hands upon the clock
Throw coins in the wishing well
For us

Sinto algo em mim a convulsionar,uma irrespirável sensação que me entranha.Êxtase num gesto que nada tem de obsceno.O fardo desejo inverossimil de ser outro, essa imagem oculta na ilusão de liberdade.Um sussurrar que invade meu domínio.Deito-me na queda a sentir um efluvio irascivel de flores.Realidade surda de uma serenidade tardia.
A vida lentamente substitui-se, o olhar estupefato num céu pardacento.Gosto ferruginoso a me engolfar nos labios.Uma ultima respiração entrecortada.
Multidão que se aglomera frenetica com sua curiosidade mórbida pelo fatidico.

No apartamento distante a voz sublime ecoa :

You make believe that you are still in charge

She's on the dark side


A meia-noite um crocitar premonitório se faz ouvir.Próxima a janela, sobressalta-se uma bela senhora desatinada, seus lábios atraentes sempre carregados de palavras sórdidas.Unhas e cabelo pintados de preto.Excede as sombras escuras que lhe dão uma falsa profundidade no olhar.
Repousa em sua cadeira, solitária, mergulhada no obscurantismo de suas ideias pessimistas.
O desejo compulsório transmutado, uma ansiedade fatigante lhe consome.Nessa noite cálida, ouve-se o eco de suas lamentações na paisagem amaldiçoada de sua alma.
Surrealidade emprestada de uma luminescência de velas nesse ambiente taciturno.
O pássaro agourento assentado sobre o galho de uma escumilha observa em seu escrutínio como a entender-lhe as dores.
Desdém fulgura nos olhos castanhos da mulher, tão vazios, tão amargos, fitam a ave num pós susto sem nenhum interesse.
Mãos pusilânimes e frias acendem um cigarro na esperança de uma saciedade que se ausenta.Vive-se de renúncias, de medo, sempre a dissuadir a si mesma.Uma existência resumida em duas linhas de caligrafia torta.
Duvidas que lhe desesperam em seu segredo mudo.A todos, supõe-se o milagre de uma felicidade que nunca se encontra.

"You are my angel
Come from way above
To bring me love"

A noite desmancha-se na Cidade Luz.
Existe um choro sem lágrimas a convulsionar por dentro.Silencioso exílio no qual simula possiveis vidas que nunca terá.Tudo é sonho, utopia derradeira de um desespero oculto.
O crocitar do corvo.Silvar repentino de um vento gélido.
Levanta-se e caminha ate a janela do outro lado do cômodo.Contempla um flanboyant vermelho do outro lado da rua pensando nas pessoas em seus compromissos de viver.Deitadas num sono vacilante, tudo imovel,
funesto e sereno.
Uma vã esperança, nunca dita, mas pensada.Saudosismo de uma infância obliterada.

"Her eyes
She's on the dark side
Neutralize
Every man in sight

Love you, love you, love you ..."

Suspiro entrecortado numa agonia de realidade imediata.Perde-se na névoa de memorias que lhe parecem roubadas de um diario alheio.O abstrato de todas sensações antagônicas que se sucedem.
Taquicardia.Falta de ar.
Embota-lhe a mente.Perde-se o foco.
No limiar do abismo.O crocitar do corvo.
A luz se apaga.

Insólito...


Ligo o radio antes de jogar o molho de chaves sobre a mesa mogno, como de costume.
O locutor, com sua rouquidão de fumante inconfundivel na voz, anuncia entre um merchandising Sonic Youth interpretando The Carpenters.
Cansaço.Ombros curvados.Olhos fundos nas orbitas.Caminho a passos pusilânimes até a estreita cozinha de azulejo imundo, besuntado.Abro uma garrafa de vinho seco, que tinha sido esquecida na geladeira sabe-se la quantos réveillons, em meio a legumes e frutas fétidas, murchas, degradando-se no seu mundinho invisivel de micro-organismos.Os pedaços de cadaver, o que restou de um bovino e duas cabeças de peixe, exalando seu cheiro putrido em decomposição.Leite azedo.Resto de refrigerante sem gás.Algumas latas de cerveja.
Duas baratas ensandecidas encontram-se sobre a pia, entre pratos e talheres acumulados, restos de comida numa marmitex, trocam informações rapidamente e partem febris em disparada.
Volto a sala sorvendo o vinho em longas goladas.A boca seca a medida que bebo.
Bitucas espalhadas pelo cômodo, me intriga como amiude transbordam dos enormes cinzeiros.Grandes cortinas plissadas, azul escuro, cobrem as janelas. Todo o chão do hermético apartamento é revestido de tapete.Ácaros fazem sua festa às escondidas.A luz do abajur é de um amarelado funesto, projeta sombras bruxuleantes nas paredes.O cheiro rançoso impregna o ar.Sufoca.Alguns quadros, réplicas de grandes artistas.Caravaggio, Picasso, Velásquez.Mobilia antiga, obsoleta.Herança dos avôs maternos, italianos vindos na decada de 30.
Constitue-se assim o cenário de uma vida lúgubre.
Tateava nas trevas em busca de uma beleza que no mundo não existe.Não essa costumeira alegoria de corpos esculpidos que vemos estampados em revistas da moda que observo assim blasé.Não.Algo que transcende. Acreditava eu em toda minha ignorância cega, não haver quem satisfaça esse meu desejo.Narcisista vê a flor do seu ego paulatinamente murchando, as pétalas se desfazem, viram pó.O que resta é esse boneco de pano sem viço que rasteja com seus andrajos de auto comiseração, sonhando a mágica fantasia de se tornar humano.A piada se constroe sobre o trágico.
Era natal, panfletos de esperança misturavam-se numa dança tétrica ao vento pela calçada suja.Anúncios de lojas de moveis, empréstimos de dinheiro, quiromantes, consórcios de veículos, perfumarias, grupos de ajuda no combate ao câncer.Auto-falantes anunciando liquidações, ofertas imperdiveis, promoções pague quanto e como puder.Há de tudo que se possa querer, uma miríade de esperanças sortidas nas aléias.Luzes de neon e cores rutilantes entre colunas de aço e concreto que se elevam.Morada dos que se esquecem facilmente das pessoas das quais amiude tentam andar sobre, e dessa mesma gente esquecida numa sarjeta de segregação como cadáveres putrefatos.Que festeja, que faz dessa mesma arma, o esquecimento, residência das horas tristes.Adornos e apetrechos se espalham pela cidade cinzenta num contraste que celebra uma data sem muita importância pra maioria das pessoas.Lar de ricos ordinarios e vagabundos na farra.Fala-se mais do Papai Noel do que de Cristo.Nos bares a algazarra, fornicação dos simios em bando, entornando garrafas de etilicos, cuspindo frases insossas de tão mastigadas.Universitarias debatem Nietzsche enquanto pintam as unhas.
Vermelho vivo.Vermelho sangue.Vampiros.Velhos comunistas ferrenhos e suas ideologias residindo nas cinzas.Balbuciam.
Prostitutas fingindo orgasmo entre paredes boloradas de um motel barato.Cheiro de sexo.Esperma nas coxas roliças da moça.Boêmios discutem futebol em rodas de butequim.Respiro, o mundo me atordoa.
Mentalizo, deja vu, transeunte absorta em seus pensamentos consumistas, elegante em sua maquiagem sóbria, cabelo preto escorrido na altura do ombro.Passa sob marquise de um prédio dito arquitetura moderna e adentra a porta.Rebola numa desenvoltura de caminhar altivo, a calça justa numa silhueta de nádegas proeminentes.Gucci, Dior, Channel, Valentino, Prada, Versace, são estes os nomes de seus anseios.Lábios carnudos sobressaem no batom vermelho gritante.O que eles querem que você queira.Pobre alma que não cabe a mim defini-la.A perfeição que atrai olhares avidos, concupiscentes, o ilusório satisfazer insaciáveis prazeres da carne.
A libido, a felação, o coito, o profano.Você se envergonha, porque deseja avidamente aquilo que proibiu a si mesmo.Escolhas.Celibatarios se regozijam masturbando, cedem às tentações na frenesi entorpecente de uma ambivalência.Redenção no autoflagelo.Pra mim são ambas formas de obter prazeres.Pedófilos vestindo batinas se escondem sob o altruismo das causas sociais.
Toca a cruz dourada numa corrente que adorna o pescoço e faz uma prece.Na porta da igreja, saída da missa, remoendo sua descrença.
Prefiro morrer na cocaína a viver o tédio de ser supérfluo.
O saber existir que em mim nunca houve.Existir de maneira que não seja do avesso.Sonho continuo que não me apetece.Me eleva residir numa felicidade simploria de nada sentir.Lacônica como o momento de um beijo em despedida.
Deveria eu perceber que entretanto, algumas despedidas nunca terminam.Doem pelo que sobrar da sua existência.Latejam nos escombros.
A alegria, por sua vez, nunca dura.
Papo de gente depressiva, disse o analista.Que sou eu bipolar.Que isso e aquilo e o que mais se possa tirar de seus livros de receitas.Assou-me uma delas em um forno de ideias pre moldadas.Me vendeu diversos rótulos.Fórmulas prontas.Meu nome não é mais Paulo, Daniel ou Jonas.Nenhum desses me pertence.Atendo agora com nome de doença, um transtorno.Me (des)orientam com livros de auto ajuda.Uma dieta de pílulas que me deitam em vicio.
Ele mesmo, o analista, diverte-se com outros do seu meio, ricos, bem sucedidos profissionais dos mais variados ramos...viboras...entupindo suas arterias de pó e vinho.Riem de mim.
Desde que comecei a escrever, sob prescrição medica, porque por mim mesmo me manteria quieto, deitado no divã como que num ventre a gerar utopias, inerte, notei o quanto as ideias são confusas.Escrever é quase como um grito.Meu paliativo.Endorfina.
Nas noites muito escuras, como se a sombra cega do dia não me bastasse, continuava minha procura.Era taciturno e desprovido de fé, por que haveria de ser diferente?
Minha luz ate então era uma realidade vista a distância num universo paralelo.Do outro lado do espelho eu via Alice."Cortem sua cabeça!" gritava a rainha.Lia inúmeros livros e me deliciava na expectativa de me tornar fictício.O que importa ao individuo continuar sua trajetoria, se tudo o que lhe sobra são sonhos vistos de uma janela longínqua ?
Perfídia a qual me lanço quando afirmo nada sentir.Afronta a mim mesmo, a pouca verdade que possa haver esbarra num insulto.Tanta coisa sinto eu.
Passeava pelos corredores obscuros de uma consciência entulhada de gente vazia, memorias fotográficas como fantasmas num subsolo, meus olhos embotados de uma tristeza implícita.Lembranças desfilavam como alegorias, minha visão desfoca, sinto a boca seca, taquicardia, as mãos tremulas.Síndrome do pânico.Pânico de ter síndrome.Síndrome da síndrome, pânico de ter pânico.Insuficiência respiratória.Medo.Inspire, expire.Relaxe.
Ouvindo a musica lenta, o piano numa lamuria de ranger de dentes, afastava todas ideias bêbadas que me assolavam.Inspire, expire.Relaxe.
A voz da minha mãe.Eu parecia mergulhado dois metros de profundidade numa piscina de agua turva.E crescia tal sensibilidade na proporção de me achar, de repente, no oceano, entre seres abissais com suas formas exuberantes e luminescência surrealista.Quiçá o inverso.Também soa muito bem.Formas luminescentes e exuberâncias surrealistas? Formas surrealistas e luminescentes exuberâncias ?
Que diria a voz? A da musica eu compreendia muito bem, limpa e altissonante.

I've been walking through the park
I've been walking in the dark
I've been walking in the rain
I've been walking with so much pain
I've been walking in the sun
And it's bought me so much fun
Lyin' on a beach
Darkness out of reach
The world is not so cold
But still it makes me fold

(Archive - "fold")

Me sirvo uma dose de wisky.Duas pedras de gelo.Energetico.Mais uma caprichada na dose.Cocaina.Acendo um charuto.Euforia.Subterfúgios.Diga-me algo novo.
E era isso, estar só nesse invólucro que a mente insiste abandonar.Se expandir num infinito desconhecido de verdades impossíveis.Devaneio.A realidade não possui os tons pasteis dos filmes românticos.É bruta.Dolorida.Espasmodica.Veridica.
A luta do ser humano é patetica.Genetica.Ludibria quem pouco pensa e quem muito pensa nada vive.Ou se alimenta do hipotético intangível.A vida é agora.Urgente.Desesperada.Frenética.
Charles Darwin vomita no inferno condenado pagão.Hitler, Che, Lênin, Nietzsche, Kurt Cobain, Morrison, dançam ao redor dele de mãos dadas entoando cânticos satânicos.É o que me fazem crer.Verdade comprada, seu troco é uma hóstia.Apenas sorrio e sigo adiante, cantando.Charlatanismo permeia entre as massas.Acendo um cigarro manufaturado por essas minhas mãos inseguras, de dedos finos, cadavéricos, observando a pele que a reveste.Me lanço na névoa densa e nociva a me perder dentro de mim.O tempo é uma incognita, esfarelando o presente ate restar a poeira do passado a cobrir as coisas.Encontro-me, como se num estalo repentino, num deserto escaldante a servir minhas visceras num banquete aos abutres.Indio sorri no caminho de volta, mão dadas com um demônio.Acordo de sobressalto, ofegante, sudorese.Cocaina a vazar dos poros.Uma lambida no antebraço.Estico outra carreira.Led Zeppelin.

"Queen of Light took her bow, And then she turned to go,
The Prince of Peace embraced the gloom, And walked the night alone.

Oh, dance in the dark of night, Sing to the morning light.
The dark Lord rides in force tonight, And time will tell us all.

Oh, throw down your plow and hoe, Rest not to lock your homes."

(Led Zeppelin - "the battle of evermore")

Tateava errante nas sombras, como sempre tinha feito nos dias que se arrastam, quando senti abruptamente mãos suaves e quentes a tocar as minhas.Eram trêmulas, no entanto, como num frenesi, um anseio desesperado por abrigo, sôfregas em seu desespero mudo, solitario.Como o naufrago na sobrevida cambaleante.Que ha anos alimenta uma expectativa cáustica de
salvar-se.Minguante no tempo.Crescente na dor e angustia.Sofimento indescritivel em palavras, tão bem traduzido num urrar insano que reverbera na noite cálida.
Lua cheia.Brilho sobre a areia da praia.Calor a fustigar os miolos.Tédio a estourar os tímpanos.
As ondas quebram numa respiração sem tregua.Sufoca-lhe as horas.
Suponho que era a mesma sensação, vibrante, radioativa, que exalava de mim.Avidos pelo sangue putrido de quem ja não tem mais vida, vive o simulacro de algo parecido, os noctivagos bebedores de sangue farejam a desgraça alheia.
Suicida no limiar do abismo, na iminência do ato irreversivel.Segue-se efeito perceptivo nos corações alheios.Nunca presumiu ser amado? Por fim se resume a isso? Amor? Uma necessidade dissimulada?
Toda a dor gerada por um anseio de cópula metamorfoseada em um nome romântico.Piegas.
Choro convulsivo a derramar-se.Saudade antecipada no velar.Desistência tardia, vista pelos olhos mesquinhos de quem se foi.Recebido pelo semblante intrigado de Schopenhauer nos portões do inferno.
Nada era visivel no submundo que habitava, imerso numa escuridão claustrofobica a caminhar em tropeços.Somente o tato me dava a impressão imprecisa do que me cercava.

Porcelain


Tamborilar de uma garoa fria na janela. Odor forte do café invadindo as narinas. Noite mau dormida de espectativa, corpo dolorido, torcicolo. Domingo é um dia maldito. Levantei-me cambaleante. Gosto amargo na boca. Olhos queimavam numa angustia de sono.
Eram dez horas. O céu estava encoberto por nuvens caliginosas. Ribombar dos trovões. Faz-se ouvir estrondo nas vidraças.
Incrivel como o cenario parecia desenhar-se especialmente para a ocasião. Criar toda uma ambietação lugubre de melancolia. Vestir-se de luto. Lufada de ar soporifero num final de tarde.
Passei pelos meus pais a mesa tomando seu desjejum. Dei um bom dia rouco numa pronuncia entre dentes. Passos arrastados até o chuveiro. As ideias todas ainda adormecidas.
Banho quente. Neurônios em ebulição sob a cabeleira longa e ressecada. Espessa nevoa embaça o espelho do armarinho. Masturbar-se. Desligar o chuveiro. Enxugar-se numa velha toalha felpuda e carcomida. Seguindo a mecânica do cotidiano.
Deposito os olhos no espelho coberto pela cortina de vapor. Com o indicador esquerdo rabisco nele um passaro caricato. Eu mesmo desdenho as coisas que crio antecipando julgamentos alheios. Apago-o assim como quem dissipa ideias tolas numa mente fertil.
Revela-se por baixo a imagem de um moribundo descarnado a me fitar. Aquele sou eu. Barba espessa de semanas infindaveis. Brilho fugaz de consciência na iris. Nenhum sinal de sabedoria, de potencia sexual e muito menos status.
Falta de higiene, desleixo.
Ergo as sobrancelhas o maximo que posso. Mostro a lingua. Caretas sem nexo. Musculos do rosto retorcidos numa dança pueril.
Não sou hippie. Maconheiros de merda. Tão aturdidos em seu ninho caotico de filosofias emprestadas. Uma miscelânea confusa, cinzenta e amorfa de ideias que rasteja num caminho sem rumo. Visão embaciada pela fumaça. Socialismo anarquista de mãos dadas com o hinduismo. Passear por campos de guerra com um sorriso trêmulo. Flâmulas da paz sujas de sangue. Terminam engolidos por um sistema intrinseco que cunha a pele. Escravos da sociedade e seus valores tradicionais num enorme rebanho. O mundo nada tem de bonito. Poeira numa imensidão de materia escura que ninguem compreende.
Amor. Truque ardiloso da natureza pra enganar a si mesma. Somos escoria num universo em expansão. Infinito. Que consciência forjada é essa em que existo?
A violencia vos libertará.
Um pensamento que reverbera vindo sabe-se la de onde. Toca um sino numa furia de ranger de dentes.
Olhos opacos fundos e cansados nas orbitas. Sinais de uma velhice antecipada. Personagem obscuro de uma historia em quadrinhos cult. Sou eu.
Nada me interessa. A loucura preenche os espaços vazios.
Quando dou por mim estou fazendo uma careta idiota pra mim mesmo. Apaga-se a faisca de uma percepção que se ausenta cada dia mais. O titere suspenso por fios invisiveis.
Vivo da boa vontade dos meus pais que me suportam.
Por obrigação genetica. Afinal não sou eu a continuidade de sua finita existência? Segue-se a logica da reprodução maciça que permeia a Terra.
Alvorada de uma verdade que me coça a carne. Prurido. Febre terçã. Insônia. Angustia de morte.
Sento-me a mesa quando todos ja sairam. Estrangeiro dentro da casa em que nasci. Inseto preso na claustrofobia de seu casulo tênue. Temeroso.
Obeservo aquelas coisas todas ali dispersas a minha frente como se enxergasse o sobrenatural. Talheres, xicaras, açucareiro, pães, queijo e presunto. Café, suco de laranja. Um maço de Marlboro e um cinzero repleto de cinzas e bitucas esmagadas.
Ladrão cheio de macula num altar com oferendas santas.
Levanto-me sem tocar em nada.
No cubiculo hermetico que é meu quarto abro o guarda roupas. Olho para aquelas camisetas todas ali em seus cabides, dispostas como pedaços de carne penduradas em um frigorifico. Perco ali alguns minutos indeciso.
Melhor por uma musica.
Sobre a escrivaninha um maço de Free. Acendo um cigarro sem muita convicção.
Engenhosidade moderna me permite ter milhares de discos numa especie de jukebox. Sim.
Meu computador é uma jukebox mesclada a uma máquina de escrever. Nada da idiotice dispensada aos sites de relacionamentos. Emprego meu tempo entre escrever resenhas sobre o que mais gosto(fazendo exatamente o que gosto) e as mesas de sinuca do boteco.
Musica.
Minha paixão. Sem ouvidos eu não teria vida.
Nietzsche disse corretamente: "Sem a música, a vida seria um erro."


"In my dreams I'm dying all the time
As I wake its kaleidoscopic mind
I never meant to hurt you
I never meant to lie
So this is goodbye
This is goodbye

Tell the truth you never wanted me
Tell me"

(Moby - porcelain)

to find a queen without a place


O ponto é o final do dito. Ponto. Restou-me o silêncio que amarga as entranhas. Esperei a voz suave que me encantava com sua melodia inaudita. Libertava-me das sensações frivolas de um cotidiano caustico. Esperei horas. Esperei dias, meses e anos. Mas a voz calou-se depois do ponto. Pra sufocar na ternura angelical de si mesma.
Morreu entre o dito e o não dito.
Sentei na orla da praia a observar o quebrar de ondas. Concentrei-me em deixar os pensamentos numa dança desvairada. Brisa suave no rosto escanhoado. Atenção concentrada torna-se a prisão das ideias livres. Fecho os olhos e respiro profunda e pausadamente.
Sorriso timido a desabrochar no cheiro vago de uma lembrança.
Tudo o que resta do amor que um dia houve repousa sobre a escrivaninha. Uma turva foto sua em preto e branco.

"Spent my days with a woman unkind,
Smoked my stuff and drank all my wine.
Made up my mind to make a new start,
Going To California with an aching in my heart.
Someone told me there's a girl out there
with love in her eyes and flowers in her hair.
Took my chances on a big jet plane,
never let them tell you that they're all the same.
The sea was red and the sky was grey,
wondered how tomorrow could ever follow today.
The mountains and the canyons started to tremble and shake
as the children of the sun began to awake..."

(Led Zepellin - going to California)

When the day is through


Escolhi viver da forma como me convém. Isolar me das ideias todas que açoitam a carne.
Da perniciosa ambição que assola o mundo. Egocentrismo dos que tentam impor a mim uma realidade que é o inverso de tudo que sonhei.
Prescindi da beleza que se esvai na mão algoz do tempo. Da falsa noção de imortalidade que é ser mãe. Renunciei a falacia das juras de amor. Carcere do espirito.
Mulheres tristes resignadas com sua condição funesta. Objeto de cobiça e pompa.
Quero respirar a brisa marinha num entardecer tranquilo de outono. Ver o ceu tingir-se de purpura numa tarde estival. Ter a felicidade atrelada a alma porque é ela pura simplicidade. Constitui-se de tudo que não é apego.
Caminho pela orla atenta a respiração do mundo. Arquejar presente nas ondas. Uma imensidão de agua com seus misterios submersos sendo ele mesmo um outro universo.
Sentam-se no cais os casais apaixonados. Contemplam a vastidão que se limita aos olhos no horizonte.
Recordo-me a canção. É doce morrer no mar.


"Take your time now
Feel like standing still
Get your baerings
Until

When the day is through
All you got to do is slowdown
When the day is through
All you got to do is slowdown..."

(Morcheeba - slowdown)

da dificuldade de se dividir uma vida...


o retrato em preto e branco continua emoldurado. repousa sobre a escrivaninha onde me debruçava nas horas frias de minha solidão tacita a escrever meus versos chorosos. poesias e crônicas que você nunca entendeu. não sei se por simples preguiça ou se por uma complexa falta de inteligência hereditaria.
ligava o radio a procura de uma melancolia que não era a minha mas que me cabia tão bem. vestia me dela como se estivesse a desfilar um terno garbo numa festa de gala. minha dor sozinha não me satisfaz. você bem sabe. empresto o sofrimento alheio que é pra me encher de uma revolta maior. transborda o cálice. e assim escrevo com essa minha letra torta de quem nunca ousou tocar caderno de caligrafia. palavras suntuosas em frases ambiguas. que você obstinadamente chamava "diario de garranchos".
continuo minha existência ordinaria como de costume. me sinto tão a vontade vivendo o habitual que não vejo razão pra ser diferente.

- Por que você vive assim sempre tão cheio de medo?
- Não tenho medo de nada.
- Ráaaaa falou o homem mais corajoso do Brasil! Tem medo ate de barata!
- Não tenho medo...tenho asco...que é o mesmo sentimento que tenho pela sua mãe.

ainda deixo a toalha molhada sobre a cama. mas agora com um adendo. minhas cuecas e meias usadas se embolam no edredon. passei a dormir na sala. irônico. odiava quando era uma imposição sua. pareço ter encontrado meu lugar. agora você nunca mais vai me acusar de não ser bom de cama. rá!
adotei um animal de estimação. um rato cinzento e gordo que dia desses me passou como um siamês.

- Não quero animais no apartamento, ja tinha te falado disso antes da gente vir pra ca.
- Mas são peixes...
- Foda-se...peixes são animais também... e puta que o pariu ein meu, o cara ter peixe é uma falta de bom senso...privar os pobrezinhos da vida no oceano.
- Pelo menos ELES estão longe dos predadores né...
- Que você quis dizer com isso?

doei suas coisas para um orfanato. fogão, geladeira, ferro de passar roupas, maquina de lavar.
sorte a minha ter uma mãe. sabe na concepção original da palavra?
a proposito, aquela sua amiga lesbica esteve aqui ontem. disse que tinha vindo pegar umas coisas suas. eu ja desconfiava. desde que dividiam o quarto naquela espeluca de republica.
deixei que ela entrasse no apartamento pra pegar o que quisesse desde que não fosse a Lisandra. uma das vantagens em se ter uma boneca é que ela não finge orgasmos. achei o cumulo que você tivesse ciumes de um objeto cheio de ar que so me servia nas horas ebrias de uma madrugada na sala.

- Augusto!!!Que porra é essa aqui atras do sofa????
- É a Lisandra.
- ???????
- Uma homenagem minha a Lisandra Souto...lembra daquela atriz que casou com o ....
- Vai tomar no cu porra!!!

espero que esteja tudo bem com sua familia. comigo tudo otimo.
recebi uma carta endereçada a você na semana retrasada. sabe aquela bolsa de estudos nos EUA que você sonhava. pois é. te aceitaram.
(fiquei muito feliz)
o que é uma pena visto que o prazo pra confirmação da matricula era ate antes de ontem.
estou lhe escrevendo carinhosamente so pra dizer que esse final de semana vou pra Florianopolis e queria saber se você podia tomar conta do Marlon pra mim.
Marlon, o rato.
Atenciosamente.

monólogos de um ébrio meliante....


Desempregado e sofrendo da dor lancinante que nunca abandona os que mal amaram, o meliante ebrio uma vez mais se contorce no seu vazio sufocante de anonimato, numa sala vazia e iluminada apenas pelo fio de luz de um unico abajur. Clima piegas de um cenario suicida ao som de Roberto Carlos. Sobre a mesa de centro um cinzero repleto de bitucas amassadas numa furia bebada. Caida no tapete uma garrafa vazia de Jack Daniels.
Uma vez mais ele torna a ligar pra ex mulher. Inconformado pelo abandono a rastejar numa nostalgia atroz.
E novamente, como tem sido nas semanas que se arrastam, a voz robotica de gravação atende:

...você ligou para (numero do tel), no momento não posso atende-lo...por favor, se você não é o Marcelo, deixe um recado após o bip...

Oi...sou eu, Marcelo...
talvez você nem ouça o resto dessa mensagem. não vai se dar ao trabalho visto a arrogância cega que lhe corroi o espirito e lhe embota a mente. quiçá ja tenha desligado agora mesmo, nesse exato instante. conhecedora temerosa das verdades a seguir. ou antes ate, quando disse meu nome mesmo sabendo que você ja sabia quem era. sua vontade é não ouvir minha voz novamente.
compreensivel. desde a infancia sofro a tortura dessa voz estridente e perturbadora de gnomos androginos em contos de fada. as vezes me calo por não me aguentar. compartilho seus sentimentos. não muitos deles, é claro. como eu poderia, por exemplo, amar um cachorro fétido e minusculo que é a antitese do significado inveterado de um cão? que nunca sob hipotese alguma foi fiel a mim. sempre cedia ao caprichos da velha tricoteira. que mijava acintosamente na minha Folha de São Paulo todas as manhãs a mando cochichado dela.
disse tambem que não queria me ver, pois bem, não esta. a grande vantagem do aparelho telefônico é não olhar pra essa sua cara nojenta de burguesa mimada.
tentei num silencio resignado permanecer abstêmio. mas umas doses de whisky me inflamou o peito cheio este de uma angustia reprimida. tentei me calar. a raiva crescia. esforcei-me ao ponto em que se sustenta o nó. e ele arrebentou-se.
precisava desdizer algumas coisas. injusto que eu esteja sob acusações e não possa me defender.
sua mãe é uma caluniadora. fato. sempre dizendo de mim como se eu fosse alcoolatra. bebo esporadicamente uma vez por dia. eu não tenho o habito desagradavel de encher de fumaça a sala das pessoas contaminando assim os pulmões alheios. pior ainda o pigarreiro a cada minuto. tenho a certeza de se tratar de um cacoete. uma devoradora de nicotina e catarro.
ja pensou na sua mãe dessa forma?
eu não tive intenção de atropelar seu cachorro. eu queria mesmo era passar por cima daquele corpo enrugado e macilento que levanta na madrugada num arrastar de chinelos pela cozinha. que gargareja ali como um peru macho no cio.
fazer com que ela cuspisse a dentadura metros adiante. que fosse enterrada com a boca murcha de alcoviteira.
maldita fidelidade canina. dou o braço a torcer, como dizem por ai os analfabetos.
o filho da puta era um bom cachorro.

Hey man, slow down


O dia é de um calor insuportavelmente sem ventos,sem brisas.Maneira de sentir literalmente preso numa estufa.Nenhum prenuncio de uma benção vinda das chuvas neste ceu de azul resplandecente limpido.Cansado permaneço sob a sombra de uma arvore frondosa de flores vermelhas,apenas sentindo este ar torrido fritar meu rosto escanhoado.Ha um lago defronte me atraindo para suas aguas mornas.Um convite lânguido a perder o sopro.Sem nenhuma eminencia de sorrisos me mantenho absorto e blasé.Fitando com olhos embotados de cansaço essa vastidão erma.

Estou farto dessa dramaturgia de palhaços rodopiantes e seus risos afetados.Sou eu em minha furia solitaria contra todo um sistema de manipulação de individuos.Todos esses ritos enfadonhos.

Tome suas pilulas e seja feliz num jogo de ilusões efemeras.Satisfaça sua autocomiseração lendo seus livros de formulas prontas. Alimento utopias distribuindo pequenos retalhos de sonhos transitorios que nunca nos satisfazem por completo.Um mundo que é mantido cego pela pérfida ambição de felicidade e seu sadico engodo.Admiravel mundo novo com suas criaturas caricatas vestidas em suas mais exdruxulas mentiras.Serei eu sempre uma criatura grotesca prenha de ideias pre moldadas?Estou parindo palavras sobre uma folha branca,pra vender como um banquete de esperanças torpes a esses abutres famigerados por soluções magicas para vida.E eles me chamam best seller.Constroem um rotulo e fazem dele seu selo de qualidade.Apetitosos por mais uma dose.





It barks at no-one else but me,


like it's seen a ghost.


I guess it's seen the sparks a-flowin,


no-one else would know.


Hey man, slow down, slow down,
idiot, slow down, slow down.




No horizonte pecebo a lumenescência dos fogos de artificio,remascentes de uma noite de festa ritual na passagem do ano.Macacos que se vestem com suas mais variadas cores,em suas mais variadas crenças,levando seus falsos mais variados anseios.Sim,porque não ha uma variedade de anseios.Todos afinal querem a mesma coisa metamorfoseada.Sera eu o idiota a julgar o que não existe?Qual é a sua felicidade? De qual ansia você padece que não seja a felicidade metamorfoseada num objeto?E quantos objetos fazem de você uma pessoa completamente feliz?Você se tornou um homem fragmentado por suas ambições materialistas.E eu como um bom canalha dissimuladamente te ensino a colecionar desejos.Vocês homens transpirando cobiça.


Sometimes I get overcharged,


that's when you see sparks.


They ask me where the hell


I'm going? At a 1000 feet per second,


Entao ouço sussurrar uma voz branda em sua suaviloquencia e ao me virar vejo seu rosto iluminado por um sorriso indescritivel em palavras.Miriade de adjetivos percorrem freneticamente os fluxos de pensamento e não me agarro a nenhum.Seus olhos brilham.E é como se eu antes submerso em meu estado letargico,voltasse ofegante,tentando me agarrar a um resquicio de respiração.Estou a salvo.De volta a banalidade que a todos ofusca.Livres dos questionamentos chafurdo em minha frivolidade.Este que é meu admiravel mundo novo.

Hey man, slow down, slow down,

idiot, slow down, slow down.

and one day,I'm gonna grow wings...


Estou perdido em meio a frenesi de transeuntes absortos em seus redemoinhos de obsessões.Símios exultantes passam por mim transbordando sonhos simiescos,balbuciam em bando,com seus escassos gestos afetados que a mim nada elucida.Seus carros,motos,onibus,
parias sem vida de uma inteligencia inescrupulosa,passam por mim e me desperta a curiosidade acerca de seus ocupantes.Que perturbações estariam levando consigo em suas mentes aqueles jovens avidos por uma dose mais de suas sensações frivolas?Perdidos entre ruas e avenidas confusos e desvairados num anseio vão.Haveria ali dentro do sistema limbico um tormento,uma duvida,uma hesitação?Ou seriam apenas desejos compulsorios de uma felicidade fragmentada?E essa mesma "felicidade" não é ela agente de tais perturbações?
Desapontados idosos esmagados como insetos por um amor que ja morreu.Eu os vejo jogando xadrez no banco de uma praça,compenetrados numa estrategia antiga.Sorriem entre eles naquele momento fugaz.A estrategia de seu xadrez é se desvencilhar de sua condição funesta.Ame seus filhos e seja tudo pra eles,ate que se tornem maquinas programadas por um sistema consumista de mundo onde você velho,não se encaixa.U are a misfitis!

Transport, motorways and tramlines
Starting and then stopping
Taking off and landing
The emptiest of feelings
Disappointed people clinging on to bottles
And when it comes it's so so disappointing
Let down and hanging around
Crushed like a bug in the ground

Quando se é velho se é tambem mais sentimental.Assim são meus amigos saudosistas.Assim são os outros velhos da Praça da Republica.Amigos de um dia numa fila de banco para aposentados,amigos de longa data num velorio de outro,deconhecidos que vem e vão e desejam simplesmente bom dia.Num singelo sorriso encontramos nosso paliativo.Sorriam para os velhos.Nos adoramos,eu lhe garanto.Ah o sorriso candido das crianças!Tranco-os sempre na memoria como num cofre.
Idosos.O que ha em comum alem dos anos que nos pesam nas costas?A solidão dilacerante.São eles,os velhos e solitarios jogadores de xadrez frequentando um mesmo lugar.

Shell smashed, juices flowing
Wings twitch, legs are going
Don't get sentimental
It always ends up drivel

Quando exilados de seus tão adoraveis filhos naqueles asilos exalando a latrina,com suas paredes de um branco bolorado,tintas descascadas,moveis tão antigos quanto nós.Mobilia usada ate mesmo por nossos avós.Ironia e solidão olham-se como cumplices, de mãos dadas sentadas numa poltrona puida.Tera sido eu um filho ou neto abstido,recluso?Que mereço eu então.Que poderia eu dizer se fui aquilo que agora condeno?Mas não,fui eu tão amavel com minha familia que herdei a piedade dos que me cercam.Amor e piedade são como irmãos,brincam a se esconder no misterio das coisas.Não me preocupo com essa incerteza que é um pouco demais para mim.Vivo a companhia dos meus velhos amigos taxistas que
sentam-se ali na praça do centro,a Praça da Rebuplica,reduto dos sexagenarios.Ainda somos jovens perspicazes alimentando nossas crenças.Todos nós ali somos jovens sexagenarios viuvos e não fomos desprezados por nossos filhos.Sou porta voz daquilo que vejo por outras paisagens calidas.Gritos sufocados numa ausencia das manhãs de domingo.
As musicas espetaculares que ja ouvi.Essa mistica sensação arrebatadora contida nas melodias.Isso é uma catarse que mantem muitos apaixonado pela vida.Um dia morrerei ciente de que fui o que gostaria de ter sido dentro de minha idiossincrasia.Convicto de que ouvi as melhores canções que alguns lunaticos desse mundo poderiam produzir.Sera mais louco aquele que ouve ou aquele que faz a musica?Não me importa.Porque aquele que faz morre,aquele que ouve idem.Mas toda a obra permanece.

One day I'm going to grow wings
A chemical reaction
Hysterical and useless
Hysterical and ...

Nemorivago


Cai subitamente de um galho enquanto sonhava uma esperança tácita em mim.Pouco a pouco emerge a lembrança de uma suposta tristeza,a mesma que supunha ser o resultado de existir por assim dizer,como pedras sobrepostas.Sinto o pânico no ruído de um relógio.Fecho os olhos lânguidos a sentir uma náusea que é quase um cansaço antecipado de tudo.
Febril.A moça que segura o guarda-chuva a espera do funeral.Persianas entreabertas de uma casa de veraneio ao fundo.Não ouço ali a soma de todas as ilusões em desalento.Nem a alegria de haver quem não se cansa.Apenas esse tiritar incessante do tempo a ser cronometrado.Um mecanismo sórdido criado por mãos sôfregas.Lamento por motivo nenhum.Lamento por essa mesma ausência de motivo.E sou assim motivada a lamentar.Com meus sonhos encadernados lacrados em minha mochila.Tudo quanto se diz em mim mesma nada traduz.Sou um universo em desencanto.
Soturna,voluvel,alheia,dissimulada.Vivo o sossego absoluto deste pequeno simulacro de sensações sutis.
A marcha fúnebre se aproxima.Fico tensa.Que poderia eu querer de mim mesma ou do mundo?Parece sempre tão excessivamente calmo aqui que chego a sentir falta de um desconforto.Fico tensa. recordações de uma garoa fria,uma garotinha de cabelos loiros corria por entre poças numa rua onde o destino era uma ideia confortável .Aleias de frondosas árvores a margear o caminho.Existia um sorriso que não reconheço como humanamente possível.Ora mas o que poderia dizer daquilo que não conheço senão que minha inquietação é um anseio sem importância nenhuma.
Todas essas pessoas vestidas com seus casacos pretos caminhando introspectivas.Passos lentos a respirar em estertores,pisam em folhas secas e evitam as poças d'agua.Começo a rir num frenesi que é como o fantasma de todas as situações absurdas que sempre se sucedem.
Sou eu o espectro notivago a vagar pelo bosque,vestida com meu manto reluzente de ostracismo.Passa o funeral,com toda a corja morbida de seres pusilânimes,olhares chorosos e enternecidos.Solicitude dos falsos amigos.A mesma sensação repetida das diversas repetições amiúde.Tem perfume de flores.Eflúvio de um anuncio antecipado de morte.
O libertar tardio de asas numa penumbra insipida,odor mefitico dos corpos ao redor.Sou eu,a moça a segurar o guarda-chuva num eterno ver passar.Presa em mim mesmo feneço nessa letargia hemorragica.Fiz lucida escolha.

"Jigsaw falling into place
There is nothing to explain
Regard each other as you pass
She looks back, you look back
Not just once, not just twice

Wish away the nightmare
Wish away the nightmare
You've got a light, you can feel it on your back
A light, you can feel it on your back
Jigsaws falling into place"