quinta-feira, 29 de abril de 2010

Entre o dito e o inaudito


O ponto é o final do dito. Ponto. Restou-me o silêncio que amarga as entranhas. Esperei a voz suave que me encantava com sua melodia inaudita. Libertava-me das sensações frivolas de um cotidiano caustico. Esperei horas. Esperei dias, meses e anos. Mas a voz calou-se depois do ponto. Pra sufocar na ternura angelical de si mesma.
Morreu entre o dito e o não dito.
Sentei na orla da praia a observar o quebrar de ondas. Concentrei-me em deixar os pensamentos numa dança desvairada. Brisa suave no rosto escanhoado. Atenção concentrada torna-se a prisão das ideias livres. Fecho os olhos e respiro profunda e pausadamente.
Sorriso timido a desabrochar no cheiro vago de uma lembrança.
Tudo o que resta do amor que um dia houve repousa sobre a escrivaninha. Uma turva foto sua em preto e branco.


sábado, 10 de abril de 2010

Hole Acoustic MTV - Hungry Like The Wolf and Doll Parts



aconteceu que num periodo de tempo,cambaleante em meio ao caos do desenvolvimento tecnologico e a musica suja e underground dos 90's,desacreditado do que a vida poderia me proporcionar no que diz respeito ao romantismo que só concerne aos idiotas,conheci,atraves da historia que escrevemos com nossa caligrafia torta de palavras pouco poeticas,uma das pessoas mais apaixonantes da minha vida estupida.que carregarei ate que de mim nem cinza reste,com o pesar dos que perdem mais do que poderia suportar,dentro de um coração murcho de quem falhou o que supunha ser.
e foi graças a esse show que instalou se,na coincidência que se acredita é a piada do destino,um amor reciproco que acabou morrendo sufocado pelo proprio peso.

Desperto...



despertar de um sono dos aflitos,cheio de horas intermináveis,de risos lapidados na necessidade pressurosa de quem vive numa solidão ressoante.madrugada fria e um abrupto secar me a boca.na escuridão tácita do meu quarto.tatear,lânguida e pretensiosamente em busca do calor do seu corpo.deparo me com o gélido vazio da cama.todas as manhãs velo aflito uma euforia que nunca se concretiza.eu,que ha muito titubeio sobre essas pernas tremulas de João ninguém.
vivo o fastio desta jazida lúgubre,envolto numa eterna nuvem translúcida de reticências.ferida palpável de uma dor quase tangível.
esse conhecimento antecipado de que nada se realizara me atordoa.
cativo desse meu cansaço de ser.abjurando o romantismo pusilânime que foi tudo que poderia haver.
esmolar o regalo dos abraços.a saciedade dos beijos.
e no final,ter a certeza de ser sempre esquecido.

terça-feira, 6 de abril de 2010

I lost someone



Eu andei por cidades desconhecidas, absorta,num frio inaudito do mês de Março,entre gente que jamais chamarei pelo nome, procurando olvidar o sentido de estar assim tão cheia de agrura.Como se a exuberância das arquiteturas pudesse me salvar dos escombros de mim mesma.
Não,não há quem me ponha fé.Atribulada e com uma ferida que me cansa em sua dor e desconforto me mantenho protegida.
Alguma coisa se perdeu nesse entremeio em que habito.
Caminhei numa penumbra de sonho vívido e chorando a ausência do riso enterrei meus pés na areia.Ouvia a melodia etérea a liquefazer me, misturando sua voz sublime ao quente do sangue e ao frio da alma.

"I lost someone
A million to one
Ten thousand people
Under my false
Someone, the one, my one
The only one
That's the someone
The someone
The only one
That's the someone
That I lost"

Na praia,esperei a noite em seu arroubo de estrelas rutilantes encontrar me em minha dança solitária repleta de sussurros.
O sopro apaga a chama e cercada pela grandeza dos mistérios do mundo, pra que houvesse ainda uma calma a ocupar me as vísceras,mastiguei as cinzas.
Pulsava em mim a lembrança ofegante dos beijos umidos em lábios cúmplices e nessa ausência nauseante de abraços, regurgitei.


"He's nothing but a stranger
Come on home to me
I'm so weak on my knees
Help me, help me please
Please, please
Good God Almighty I love you
I lost someone
One trillion to one
A million people
Under the big old sun I see
My one on the street
Looking like a bomb
That's my one
That's my someone
He's the one
He's
Help that one"

Deitei me sobre a angustia convalescente,contraindo me numa reflexão nascida de todas essas sensações abstratas.Na inercia derradeira de nascer em mim um perdão irrequieto.
Presa aos fragmentos que são ultimos restos meus da derrota deixo banhar me as lagrimas.Estremeço.
Desligo o radio com o coração incerto.E na travessia indefinida das hipoteses,me perco no sono.

domingo, 4 de abril de 2010

Durmo



Sentei me a beira do lago com essa ânsia de morte que me entranha a carne.Essa espera tácita de um passar de horas infindável, que há de parir em mim,cedo ou tarde,todos e demais devaneios.
Contemplava a bucólica paisagem que me estremece o corpo, me invade com sua solidão tão cheia de sombras e cheiros.Gritei.Gritei em meu torpor mórbido de como quem sente a dor lancinante que já não cabe dentro de si.
Por nunca ter tido nada,me vejo livre.
Uma brisa amena me roçou a pele,passou por mim com seus dedos moribundos a me eriçar os cabelos.Deito me na relva e invento auscultar a respiração do mundo.
Triste de quem vive essa eterna ausência de sonhos não dormidos.
Me custa amar,que com esses fios invisíveis controla o farrapo de um corpo esquálido.
Sou eu,paradoxo cambaleante e insípido numa magoa que persiste.
Uma garrafa de vinho jaz vazia ao meu lado.Algumas bitucas espalhadas a esmo,elas todas levando consigo vestigios de um batom vermelho em labio trêmulo. Encolhi me ainda mais,em posição fetal protegida deste desassossego que no âmago reside.Cresce o cansaço.Os olhos pesam embotados e sei que se estou tonta é de tanto pensar.
Sentei me a beira do lago com essa ânsia de morte que me entranha a carne.Imperfeita criatura num deslumbramento incógnito.Luminosidade surreal,surrealismo luminoso.Nas asas de borboleta sucede se um contraste austero com o dia cinzento, e a me beijar as palpebras,arde me as pupilas.
Durmo.Pesadelos mastigados,ruminados e nunca digeridos.



"Seems that I have been held, in some dreaming state
A tourist in the waking world, never quite awake
No kiss, no gentle word could wake me from this slumber
Until I realise that it was you who held me under

Felt it in my fist, in my feet, in the hollows of my eyelids
Shaking through my skull, through my spine and down through my ribs

No more dreaming of the dead as if death itself was undone
No more calling like a crow for a boy, for a body in the garden
No more dreaming like a girl so in love, so in love
No more dreaming like a girl so in love, so in love
No more dreaming like a girl so in love with the wrong world"

Florence and the Machine - blinding